Silvio Santos, mesmo sem querer, mudou os rumos do futebol brasileiro

Maior apresentador da história da televisão no Brasil, Silvio Santos teve uma relação sempre muito distante das transmissões de futebol no país. Morto no último sábado (17), aos 93 anos, o apresentador sempre manteve o SBT alheio à disputa pelos direitos de transmissão dos principais torneios e pouco investiu no esporte.

Mas, ao longo de décadas à frente do segundo maior canal de TV aberta do país, Silvio Santos e o SBT causaram alguns movimentos que mudaram os rumos do futebol brasileiro ou, pelo menos, provocaram um grande barulho no mercado.

A maior investida do SBT no esporte foi durante a década de 1990, quando o canal começou a ser incomodado pela TV Record na vice-liderança da audiência. Isso fez com que executivos da emissora convencessem Silvio Santos a separar um pouco de dinheiro para ser investido na transmissão do futebol.

Copa do Brasil

Em uma era em que praticamente não havia dinheiro sendo despejado pela TV brasileira na compra de direitos de transmissão, o SBT fez um acordo com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em 1994 para exibir a Copa do Brasil de 1995 a 1997. Até então, a competição ainda era deixada em segundo plano pelos clubes brasileiros.

Naquele primeiro ano, porém, o SBT conseguiu alavancar o interesse do público pelo evento com transmissões bem-humoradas comandadas por Silvio Luiz. Além disso, contou com a sorte de ter o Corinthians sendo campeão sobre o Grêmio. O jogo decisivo rendeu a maior audiência da história do SBT até então (54 pontos), dando ao canal uma inédita liderança soberana no Ibope.

O sucesso inicial, porém, não se repetiu nos anos seguintes. Em 1997, Silvio Santos tomou uma atitude que revoltou o torcedor de futebol, os clubes e a CBF. Sempre preocupado com a audiência do SBT, interrompeu transmissões da Copa do Brasil no intervalo para transmitir o “Programa do Ratinho”, que vinha tendo bons índices nas noites durante a semana. A medida fez com que, no ano seguinte, a Globo passasse a ser a parceira da CBF nas transmissões.

Gol Show

A experiência com a Copa do Brasil fez com que o SBT acendesse o alerta para o poder de atração de audiência do futebol. Sem querer derramar dinheiro nas transmissões, que começavam a ter escalada de preços na disputa com a TV fechada, Silvio Santos usou seu tino de apresentador para criar um programa de auditório com a temática do futebol.

Em 1997, dentro de seu programa, lançou o Gol Show. O apresentador comandava a atração em que o torcedor, por telefone, tentava fazer um gol sobre um goleiro profissional. O paraguaio José Luis Chilavert, então eleito o melhor goleiro do mundo, foi o convidado do programa de estreia.

A atração ficou dois anos no ar com grande sucesso de audiência e, em 2022, voltou à grade do canal como forma de impulsionar as transmissões do futebol que passaram a ser regulares.

Patrocínio gratuito ao Vasco

Em 2000, Vasco e São Caetano disputaram a final do Campeonato Brasileiro, então denominado Copa João Havelange, fruto de uma briga na Justiça provocada pelo Gama, rebaixado em 1999 no Brasileirão após uma manobra nos bastidores.

No dia 30 de dezembro de 2000, quando os dois times jogavam em um Estádio de São Januário superlotado, parte da arquibancada cedeu, deixando centenas de feridos.

O então presidente do Vasco, Eurico Miranda, queria continuar a disputar a partida. Seu desejo, porém, foi impedido, entre outros motivos, pela Globo, que alegou não poder mudar sua grade de programação para continuar a exibir a partida, que foi remarcada para o mês de janeiro.

A atitude revoltou Eurico, que decidiu dar o “troco” na emissora na partida decisiva, disputada em 18 de janeiro de 2001. O Vasco entrou em campo com a logomarca do SBT estampada na camisa.

As câmeras da Globo, que transmitia o jogo com exclusividade na TV aberta, rapidamente mudaram o ângulo da imagem e exibiram a partida praticamente sem mostrar os jogadores do Vasco de perto.

Segundo o SBT, o uso da marca pelo clube não foi autorizado pela emissora, que acabou ganhando uma exposição gratuita na camisa do time campeão brasileiro.

O episódio, no entanto, rendeu uma mudança na legislação esportiva brasileira, que até hoje proíbe a propaganda de empresas de mídia na camisa de times. O veto foi colocado na primeira alteração da Lei Pelé, em 2001, e teve forte influência da Globo.

Briga na Justiça com Globo e FPF

O episódio do Vasco em 2001 reacendeu a rivalidade do SBT com a Globo. Em 2003, o canal paulista fez a última grande investida no esporte, ainda sob a gestão centralizada de Silvio Santos.

Naquele ano, o SBT fez um acordo com a Federação Paulista de Futebol (FPF) para exibir com exclusividade o Campeonato Paulista. A Globo, porém, entrou na Justiça para retomar os direitos, alegando que a FPF não cumpriu a cláusula que dava à emissora carioca o direito de igualar a proposta feita pela empresa de Silvio Santos.

O caso foi se desenrolando durante o Paulistão, que só tinha um jogo transmitido por rodada, já que uma guerra de liminares na Justiça concedia aos dois canais os direitos de exibir os jogos, mas apenas na TV aberta.

A situação fez com que Silvio Santos desistisse de vez de brigar pela transmissão do futebol. Assim, desde 2004, o SBT não buscava mais nenhum direito esportivo.

Essa questão só foi mudar durante a pandemia de Covid-19, quando, já sem a influência do patrão nas tomadas de decisão da empresa, o SBT comprou a transmissão da Copa Libertadores após a desistência da Globo no meio do contrato.

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