Academia e Indústria do Futebol: Uma parceria estratégica rumo à excelência e à sustentabilidade

Qual é o potencial de colaboração entre instituições de ensino e organizações da indústria do futebol? Essa conexão pode ser uma alavanca importante para a profissionalização do futebol brasileiro?

Diante do recente convite para atuar como curadora do Eleva, núcleo de estudos voltado ao Marketing Esportivo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), de São Paulo (SP), essas reflexões se tornaram, para mim, ainda mais relevantes.

A possibilidade de aproximar o universo esportivo de uma instituição que tem em seu propósito a excelência na formação de profissionais soou como uma grande oportunidade de viabilizar uma significativa colaboração mútua: educação e futebol.

Portanto, trago para a coluna deste mês pensamentos que reforçam a percepção de que a tabelinha entre educação e futebol pode promover inovação e crescimento sustentável no mundo do futebol, beneficiando profissionais do setor, fãs e a comunidade em geral, além de contribuir para elevar a “marca futebol brasileiro” por meio do desenvolvimento de tudo que envolve a modalidade.

Para fortalecer esse pensamento, compartilho a visão de Mauro Silva, ex-jogador e atual vice-presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF):

“O futebol passou décadas distante da pesquisa e da ciência, e levou anos para perceber que informações e dados de qualidade fomentam o esporte e contribuem para a evolução dentro de campo. Por isso, colaborações entre instituições de ensino e entidades de futebol têm enorme potencial para promover a excelência e formar profissionais qualificados. Isso contribui diretamente para o desenvolvimento sustentável do futebol e beneficia a todos os envolvidos”, afirmou.

O benefício mencionado por Mauro Silva pode vir de múltiplas maneiras. O desenvolvimento de talentos por meio de programas acadêmicos abrangendo áreas que impactam o esporte, tais como gestão financeira, gestão de recursos humanos, marketing e comunicação, talvez seja a forma mais óbvia de criar esse contexto colaborativo. Se fosse “apenas” esse o potencial, já seria significativo, considerando o evidente desafio de profissionalização da indústria do futebol brasileiro e a necessidade de elevar a gestão de clubes e demais organizações a patamares mais competitivos.

No entanto, o potencial de ganhos não se restringe a isso. Trabalhar em conjunto em projetos focados no desenvolvimento de pesquisa e inovação, com vista para ganho de performance, geração de dados, identificação de formas para otimizar a gestão e melhorar a eficiência em processos, por exemplo, é outra possibilidade de gerar ganhos significativos para todos os envolvidos.

Além disso, a colaboração mútua em eventos e projetos que apresentem demanda de mão de obra com o perfil dos estudantes envolvidos com cursos da área esportiva, de tal forma que haja troca entre trabalho e ambiente que gere aprendizado, também pode ter grande valor para os envolvidos. Isso feito de forma estruturada e com objetivos claramente definidos para ambas as partes é a prática do processo ensino-aprendizagem.

Indo ainda mais além, podemos mencionar a possibilidade de integração com a comunidade por meio de programas de educação, desenvolvimento comunitário, iniciativas de responsabilidade social corporativa e projetos de inclusão social por meio do esporte.

A lista de possibilidades pode ser ainda maior. Cabe a nós, gestores do futebol, assim como aos gestores de instituições de ensino, identificar as oportunidades e dedicar energia, recursos e dar a devida prioridade para que projetos sejam viabilizados e gerem os resultados que efetivamente coloquem os envolvidos em níveis mais altos de conhecimento e desempenho nas diferentes áreas. Iniciativas têm sido cada dia mais frequentes neste sentido. Por exemplo, o curso de Administração da ESPM, por meio do Eleva Esportes, estimula alunos a desenvolverem soluções para instituições esportivas. As demandas ligadas a áreas como comunicação, marketing e planejamento estratégico, entre outras áreas de atuação relacionadas com o curso, são selecionadas por meio de uma curadoria e, a partir disso, é promovido um processo de troca entre alunos e a instituição parceira (clubes, ligas, federações, empresas ligadas ao esporte), de tal forma que sejam desenvolvidos projetos relevantes que ofereçam soluções concretas e diferenciadas.

“Com o passar dos anos, percebemos a procura dos estudantes por áreas especificas como o esporte. Sempre tivemos esse viés de trazer casos reais para dentro das disciplinas e hubs, e com o esporte não foi diferente, pelo contrário, percebemos os estudantes mais engajados e ansiosos por projetos que proporcionem maior conhecimento e aplicação da teoria na prática. Unir o marketing do curso de Administração da ESPM-SP ao futebol profissional significa dar um largo passo em direção à profissionalização de ambos e maior excelência na formação do estudante”, explicou Erika Buzo Martins, coordenadora do curso de Administração da ESPM-SP.

Gestores de diversas áreas do futebol têm reconhecido e promovido a importância da educação como um elemento-chave para impulsionar o futebol brasileiro a níveis mais elevados. Como exemplo pode ser mencionado Fabio Mello, ex-atleta e fundador da FMS Gestão Esportiva, atualmente executivo com posição de destaque na indústria do futebol, que ressaltou em entrevista recente concedida à InvestNews que seu percurso de qualificação formal foi fundamental para a preparação que o permitiu chegar ao sucesso e profissionalismo na liderança de uma das principais empresas de gestão de atletas do Brasil. O executivo frequentemente enfatiza o valor da sua jornada educacional, que inclui graduação e pós-graduação, como parte essencial de sua preparação para alcançar o alto desempenho profissional fora dos gramados.

Ainda nesse contexto de interação entre o meio acadêmico e o futebol, destaco a Universidade do Futebol como uma referência importante. A instituição é dedicada exclusivamente ao desenvolvimento em diversas áreas relacionadas ao futebol. Neste caso, não se trata de colaboração entre duas partes, mas, sim, de uma abordagem dedicada tanto ao aspecto acadêmico quanto ao esportivo do futebol, coexistindo no propósito central de uma empresa.

“A Universidade do Futebol surgiu há mais de 20 anos acreditando na transformação pelo conhecimento. Usando a frase do fundador, o professor João Paulo Medina, ‘o futebol é assistido por bilhões, jogado por milhões e estudado por muito poucos’. A transformação só virá a partir do momento que compreendermos o futebol em todas as suas dimensões. Então, existimos não somente para desenvolver conteúdo, mas também para conectar instituições que fomentem a educação como um princípio básico do futebol”, destacou Heloisa Rios, CEO da Universidade do Futebol.

Diante desta frase, finalizo ressaltando que, para a colaboração entre os dois universos (acadêmico e do futebol) ser eficaz, é necessário um compromisso genuíno de ambas as partes. E, para que mais empresas como a Universidade do Futebol prosperem com o propósito da união entre futebol e educação, é preciso um forte compromisso com a excelência na qualificação das múltiplas áreas de atuação desta indústria bilionária, apaixonante e desafiadora.

Assim como acontece em todo ambiente organizacional, o planejamento e a execução devem estar alinhados e terem igual prioridade no processo de desenvolvimento. A partir disso, nessa perspectiva de parceria seguramente está um importante potencial de acelerar e dar sustentabilidade à excelência do futebol brasileiro dentro e fora dos gramados.

Ana Teresa Ratti possui mais de 20 anos de experiência corporativa, é mestra em Administração, trabalha atualmente com gestão esportiva, sendo cofundadora da Vesta Gestão Esportiva, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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