O judô brasileiro alcançou seu melhor desempenho olímpico da história nos Jogos de Paris 2024. Os judocas convocados pela Confederação Brasileira de Judô (CBJ) ganharam quatro medalhas, igualando o maior número do esporte em uma só edição.
Antes de Paris 2024, o melhor desempenho do judô em Jogos havia sido em Londres 2012, quando o esporte também trouxe quatro medalhas (um ouro e três bronzes). Na última edição, em Tóquio 2020, o Brasil fez campanha frustrante, com a conquista de apenas dois bronzes.
O ouro em Paris veio de Beatriz Souza no +78 kg, enquanto a prata foi conquistada por William Lima no -66 kg. O bronze individual foi de Larissa Pimenta, na categoria -52 kg. Por fim, o segundo bronze veio após vitória contra a Itália, na disputa por equipes mistas, que estreou em Tóquio 2020.
“Poderíamos ter chegado a seis medalhas em disputas de bronze definidas em detalhes com a Rafaela Silva e o Rafael Macedo. O resultado final colocou o Brasil como a quinta maior potência mundial no judô, o que era nossa missão no planejamento estratégico da CBJ”, destacou Marcelo Theotonio, gerente de alto rendimento da CBJ e chefe de equipe do judô em Paris, em entrevista à Máquina do Esporte.
Preparação
O diretor descreveu o caminho da entidade para alcançar esses resultados em Paris 2024. Na sua visão, o bom desempenho foi uma consequência de diversos fatores, que envolvem direcionamento de investimentos, preocupação com a saúde mental e alinhamento com clubes.
“Começamos esse novo ciclo buscando dar mais oportunidades de acesso à seleção e agrupamos os atletas da seleção em zonas de investimento com níveis diferentes, fazendo o planejamento para cada grupo. Em 2024, focamos na lapidação do grupo de elite e em classificar o maior número de atletas aos Jogos”, contou.
“Tivemos um cuidado muito grande com a saúde física e mental dos atletas. Outro ponto fundamental foi o alinhamento do planejamento da seleção com os principais clubes do Brasil. Todo esse processo contribuiu para chegarmos à Paris com uma equipe homogênea em chances de medalha”, seguiu.
Para Theotonio, a qualidade das categorias de base do judô brasileiro também foi relevante para o resultado obtido em Paris 2024.
“Dos três medalhistas no individual, dois eram estreantes em Jogos Olímpicos [Bia e Willian] e os três vieram das categorias de base da seleção. Ou seja, foram medalhas construídas pela CBJ a longo prazo com investimento robusto e certeiro na base até a transição para a equipe principal”, analisou.
Apesar de ser um esporte com grande apelo durante os Jogos Olímpicos, o judô brasileiro não contou com muitos patrocinadores durante o ciclo para Paris 2024. Atualmente, a CBJ tem apenas um parceiro comercial.
“Atualmente, a CBJ possui a Kusakura como fornecedora de material esportivo, que é quem fornece os quimonos oficiais de competição da seleção brasileira. Acreditamos que, com o excelente resultado olímpico junto ao potencial de entrega dos nossos atletas e da nossa modalidade, conseguiremos atrair mais marcas que queiram usar o judô como plataforma de conexão entre elas e os consumidores”, espera Theotonio.
Por conta da falta de patrocínios, a CBJ tem uma grande dependência das verbas repassadas pelo Comitê Olímpico do Brasil através da Lei Piva, que define que 2% da arrecadação bruta das loterias da Caixa seja direcionado ao COB e ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).
“Hoje, os recursos da verba de loteria [a Lei Piva] representam, aproximadamente, 76% do orçamento total anual da CBJ. Ou seja, é o principal pilar de sustentação financeira da entidade, sendo fundamental no financiamento da seleção principal e da gestão administrativa”
Marcelo Theotonio, gerente de alto rendimento da CBJ
“São esses recursos que garantem levarmos os atletas para competir no Circuito Mundial, participar de treinamentos e campings no Brasil e no mundo, além de manter parte da nossa equipe multidisciplinar, como treinadores, médicos e fisioterapeutas”, acrescentou.
No ciclo para Paris 2024, que foi um ano mais curto por conta do adiamento de Tóquio 2020, a CBJ recebeu R$ 24,1 milhões, equivalentes a 4,1% do total repassado pelo COB para todas as confederações brasileiras.
Os valores repassados pelo COB são influenciados por diversos fatores, que consideram a relevância, desempenho e custo, entre outros, de cada esporte.
“Com os excelentes resultados esportivos do judô neste ciclo, tanto no Pan de Santiago [em 2023], quanto nos Jogos Olímpicos, além da boa pontuação que temos no programa GET, esperamos manter ou até aumentar esse patamar de investimento via verba de loteria”, projeta Theotonio.
O dirigente refere-se ao Programa Gestão, Ética e Transparência (GET), implantado pelo COB em 2017 com o objetivo de melhorar a administração das entidades olímpicas.
Os investimentos do governo federal nos esportes também envolvem o Bolsa Atleta, programa que oferece pagamentos mensais para esportistas inscritos.
Entre os 10 judocas que representaram o Brasil em Paris 2024, nove são bolsistas. Larissa Pimenta, medalhista de bronze, é a única exceção da equipe. No entanto, a judoca já foi beneficiada pelo programa durante dez anos da carreira.
O encerramento de Paris 2024 marca, também, o início de um novo ciclo olímpico para Los Angeles 2028. No ponto de vista da CBJ, o desenvolvimento dos atletas que estiveram na última edição dos Jogos deve aumentar o potencial de medalha do Brasil. Ainda assim, é necessário um trabalho para aproximar as categorias de base do alto rendimento.
“Temos uma boa base de judocas jovens que tiveram a primeira experiência olímpica em Paris e que ainda terão, pelo menos, mais um ciclo pela frente, e judocas experientes que podem chegar à Los Angeles ainda mais maduros”, avaliou Theotonio.
“Mas, o trabalho de formação de novos talentos segue um processo bem definido há muitos anos. Temos esse objetivo de aproximar o planejamento das categorias de base com o alto rendimento. É uma estratégia que a CBJ já faz há alguns ciclos e que funcionou para alguns medalhistas. É trabalhar o presente e fomentar o futuro. Esse é o objetivo do judô brasileiro”, concluiu.