Bonito deve abraçar sustentabilidade e aguardar mudanças importantes no uso dos recursos naturais

O município de Bonito tem características próprias que o diferenciam e destacam no mundo todo como principal destino do ecoturismo. Suas grutas, rios de águas cristalinas povoados de peixes e plantas aquáticas e formações minerais e a abundância de cachoeiras, cercados de matas verdes, são atrativos naturais muito apreciados e valorizados. A indústria do turismo promoveu o crescimento populacional e o desenvolvimento econômico da cidade, mas não veio de graça. O meio ambiente tem se ressentido dos impactos causados pela ocupação nem sempre correta, exigindo medidas urgentes e efetivas, observou o secretário executivo de Meio Ambiente da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Artur Falcette.

“Poucos municípios cresceram em população e se desenvolveram como Bonito. O Poder Público não tem conseguido acompanhar esse ritmo, soma-se a isso hiatos em relação à preocupação com o meio ambiente e o resultado são problemas recorrentes como o turvamento das águas dos rios”, disse Falcette, em palestra durante a abertura da 12ª Feira Socioambiental de Bonito na noite dessa segunda-feira (10). O evento acontece entre 10 e 12 de junho no Centro de Convenções de Bonito, promovido pelo IASB (Instituto Águas da Serra da Bodoquena), em parceria com a Prefeitura Municipal e com apoio de inúmeras empresas e instituições locais.

Falcette defendeu uma “mudança de mentalidade” urgente na população bonitense, colocando a conservação ambiental acima de qualquer outra questão e conscientizando-se de que a região é diferente, portanto precisa de normativas próprias e cuidados específicos. Os próprios moradores precisam se conscientizar dessa necessidade e ajudar o poder público a fiscalizar e fazer com que as leis ambientais sejam cumpridas por todos, advertiu o secretário.

“Temos o trade turístico mais bem organizado do Estado e paralelamente, ergueram-se desafios ambientais na mesma proporção. Resultado da ação de alguns e da inação de muitos outros. A sociedade precisa abraçar a causa ambiental, alguém que descumpre uma licença ambiental comete crime, precisa ser constrangido. Não tem mágica, a gente precisa fazer acontecer. Tem mais a ver com mudança de mentalidade do que com a presença do Estado”, afirmou.

A gravidade dos problemas ambientais envolvendo Bonito e, especificamente, o rio Formoso, principal curso dágua que corta o município e com inúmeros atrativos em suas margens, levou o Governo do Estado a criar o Grupo Técnico Institucional do Rio Formoso (GTI do Formoso).  O grupo começou a atuar em 18 de janeiro, em reunião que contou com a presença do governador Eduardo Riedel. É composto por representantes da Semadesc, Secretaria de Governo, Seilog (Infraestrutura e Logística), Agesul (Agência de Empreendimentos), Sanesul (Empresa de Saneamento), Imasul (Instituto do Meio Ambiente), Prefeitura de Bonito e da empresa Ambiente MS Pantanal, que gerencia o serviço de esgotamento sanitário naquele município.

Após várias diligências e operações de fiscalização nos atrativos, reuniões e consultas à comunidade, empresariado e autoridades, o GTI do Formoso apresenta nos próximos dias o relatório final e as sugestões de medidas ao governador Eduardo Riedel para ampliar o nível de proteção, recuperação e uso sustentável da bacia do Rio Formoso. O secretário executivo Artur Falcette adiantou que serão medidas importantes e será preciso que a população tenha consciência da necessidade de mudança de postura para que se obtenham os resultados esperados.

“Mais importante que Bonito ganhar 17 ou 20 prêmios de principal destino do ecoturismo mundial é ter a certeza que poderemos chegar ao 100º. De nada adianta acumular todos esses títulos e deixar de existir daqui a 10 anos. Tem uma parte importante nessa tarefa que é do poder público, e isso vamos apresentar nos próximos dias. Mas tem outra que é da população”, alertou.

O relatório do GTI deve apontar para 12 eixos de ações que podem ser agrupadas em dois conjuntos básicos: enfrentamento à ocupação imobiliária irregular e medidas de saneamento e drenagem eficientes. Falcette lembrou que nas operações lideradas pelo GTI do Formoso foram identificados 490 ranchos de lazer instalados ao longo das margens do rio Formoso, muitos com diversas irregularidades ambientais, “sem licença, à revelia das leis”.

Outro levantamento apontou cerca de 500 pontos que precisam de adequações na malha viária para evitar o carreamento de dejetos aos rios, fragmentações em APPs (áreas de preservação permanente) e ajustes no lançamento de efluentes da estação de tratamento de esgoto (ETE). Esse último problema já tem solução encaminhada pela empresa concessionária dos serviços de abastecimento de água e saneamento básico do município.

A ideia é que seja realizada uma audiência pública para que a população de Bonito seja informada do conteúdo do relatório do GTI do Formoso e se conscientize da importância das medidas a serem adotadas para sanar os problemas detectados. “Num contexto em que as ferramentas de controle e fiscalização do poder público sejam fortalecidas e atuem com eficiência, ainda assim não será possível atingir a mentalidade das pessoas. É preciso uma mudança de comportamento”, concluiu.

A abertura da 12ª Feira Socioambiental de Bonito contou com participação do prefeito da cidade, Josmail Rodrigues, vereadores, secretários municipais, empresários e da população em geral. Antes da palestra, vários grupos fizeram apresentações culturais. Amanhã (12), último dia do evento, na parte da tarde haverá palestras com o gerente de Recursos Hídricos do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), Leonardo Sampaio Costa, em painel mediado pela coordenadora de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Semadesc, Ana Cristina Trevelin.

Texto: João Prestes
Fotos: Mairinco de Pauda

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