O caso emblemático da “Clínica de Planejamento Familiar” que funcionou durante 20 anos no centro de Campo Grande, e realizou mais de 10 mil abortos virou podcast da Folha de S. Paulo. A história do lugar, comandado pela médica anestesista Neide Mota Machado, e que oferecia abortos clandestinos entre os serviços vai ser contada mais uma vez.
Segundo a Folha, o podcast tem intuito de investigar o maior processo por aborto do Brasil. Na época Campo Grande esteve nos holofotes da mídia nacional.
Durante as investigações foi descoberto que a clínica funcionou de 1989 a 2007. Por ali passaram milhares de mulheres em busca de uma interrupção da gravidez.
O procedimento é comum no Brasil: a Pesquisa Nacional de Aborto de 2021 mostrou que uma em cada sete mulheres com até 40 anos abortou ao menos uma gestação. Conforme o portal, o levantamento coordenado pela antropóloga Débora Diniz ouviu 2.000 mulheres em 125 municípios.
Essas mulheres, em sua maioria, acessam a interrupção da gravidez no mercado clandestino. No Brasil, o aborto só é legal em casos de estupro, risco de vida para a gestante ou anencefalia do feto.
Acordo silencioso
Uma espécie de acordo silencioso entre a médica Neide Mota Machado e a sociedade de Campo Grande permitiu que o funcionamento da clínica se mantivesse por duas décadas. Até que uma reportagem da TV Globo denunciou os atendimentos e isso desencadeou uma operação policial.
Na ação da polícia, os registros médicos de 10 mil pacientes foram apreendidos. Os casos foram analisados, investigados e levaram mais de mil mulheres à Justiça. As funcionárias da clínica também foram processadas —e levadas ao Tribunal do Júri.
As repórteres Angela Boldrini e Carolina Moraes investigaram por meses esse que se tornou o maior processo criminal sobre aborto do Brasil.
(Médica foi encontrada morta. Foto: reprodução Isto é/ internet)
Neide foi encontrada morta dentro de seu carro, segurando uma seringa de 10 mililitros, próximo à chácara onde vivia com a mãe no ano de 2009, antes de ir a júri. O caso foi tratado como suicídio.
Podcast da Folha
O podcast explora os corredores do Congresso em Brasília e viaja a Campo Grande, Belo Horizonte e Uberlândia para resgatar a história da clínica e debater os caminhos da discussão sobre direitos reprodutivos no Brasil.
Angela Boldrini e Carolina Moraes são repórteres da editoria de Podcasts da Folha. Angela apresentou a série narrativa Sufrágio, com apoio do Pulitzer Center for Crisis Reporting, e cobre desigualdade de gênero e temas relacionados aos direitos das mulheres. Carolina é produtora do Café da Manhã e apresentou o Expresso Ilustrada, podcast de cultura da Folha.
A edição de som do podcast é do Raphael Concli. A pesquisa foi feita com Isabella Menon, repórter da Folha, e a coordenação é de Magê Flores. A supervisão de roteiro é do Daniel Castro e a identidade visual do podcast é da Catarina Pignato.
Os episódios são publicados todas as quartas-feiras, às 8h. Eles podem ser ouvidos no site da Folha e nas principais plataformas de áudio.