É bom mesmo receber os Jogos Olímpicos?

O que realmente ganha uma cidade com a realização dos Jogos Olímpicos? Essa é a pergunta que os franceses fazem agora perto da chegada de atletas, jornalistas e fãs do mundo inteiro. Diferentes cidades contarão diferentes histórias. Quase sempre, só será possível ter a real dimensão do legado depois que a vida voltar ao normal. E, ainda assim, as opiniões não serão necessariamente as mesmas.

O grande exemplo de um projeto reconhecido no mundo inteiro como bem-sucedido é o de Barcelona, especialmente com a recuperação de uma grande área da cidade, onde foi instalada a Vila Olímpica dos atletas. Os Jogos de 1992 também ajudaram a aumentar o interesse pela cidade e impulsionaram o turismo.

Montreal e Atenas contam histórias diferentes. A cidade canadense pagou por décadas os investimentos feitos para organizar os Jogos de 1976 e, até hoje, é difícil convencer alguém na região de que ser uma sede olímpica é uma boa ideia. Na capital grega, berço dos Jogos e palco da edição de 2004, os gastos com os Jogos Olímpicos foram um dos fatores que causaram a grave crise econômica no começo da década passada.

Eu vivi por quatro vezes a experiência olímpica nas cidades que receberam os Jogos durante o evento: em Sydney, na Austrália, em 2000; em Atenas, na Grécia, em 2004; em Pequim, na China, em 2008; e em Londres, na Inglaterra, em 2012. Dessa vez, estive em Paris trabalhando por um mês entre abril e maio. Voltei para casa dois meses antes da abertura. Já está quase tudo pronto, arquibancadas montadas, sinalizações feitas e avisos no transporte em vários idiomas. E, claro, as lojas olímpicas também já faturando.

Nas outras cidades, algumas mais que outras, havia sempre um lugar novo, caro e espaçoso construído para receber os Jogos. Dessa vez, parece a mesma Paris que visitei outras vezes. Isso é reflexo de uma nova forma de ver os Jogos e o impacto no longo prazo. As pessoas estão mais criteriosas e exigirão cada vez mais cuidado com cada centavo gasto para um evento como esse. Além disso, a Vila Olímpica e muitas arenas olímpicas ficam na região de Saint-Denis, que está longe da parte turística, histórica e central de Paris.

A capital francesa não precisa de grandes obras estruturais, mas é difícil imaginar milhares de visitantes somados aos usuários do já lotado transporte público da cidade sem que haja uma grande confusão. É verdade que os Jogos serão realizados quando muita gente tira férias na França, o que costuma deixar Paris mais vazia. Pelo menos de moradores locais. E tem também uma campanha estimulando as pessoas a trabalhar de casa durante a Olimpíada. Até o preço do metrô, do trem e do ônibus ficará mais caro para tentar fazer as pessoas ficarem em casa.

Tem muita gente reclamando do impacto na rotina e também na dúvida se todas as promessas serão cumpridas, como a limpeza do Rio Sena, o que parece improvável algumas semanas antes da Cerimônia de Abertura. Um dos argumentos a favor dos Jogos na França é de que eles podem engajar a população mais jovem e fazer crescer a prática esportiva, principalmente em áreas como Saint-Denis, que têm um percentual maior de imigrantes do que a média nacional.

A tentativa de fazer uma edição menos extravagante e com mais responsabilidade fiscal e social parece interessante e promissora, embora esteja claro que os parisienses estejam querendo ver para crer. E as lições dessa Olimpíada servirão não só para os franceses, mas certamente para os americanos, que receberão os Jogos em Los Angeles, em 2028, e para os australianos, que terão Brisbane como sede olímpica em 2032.

Sergio Patrick é especializado em comunicação corporativa e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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