Greve em Hollywood: “IAs ameaçam a sociedade”, diz roteirista de Batman

Em entrevista exclusiva ao Omelete, David S. Goyer se mostra preocupado com o futuro da humanidade: “precisamos ter cuidado”

Em greve desde maio, roteiristas de filmes e séries norte-americanas pedem – entre várias melhorias – a restrição do uso de inteligência artificial em Hollywood. Com isso, o que começou como uma discussão por remunerações justas e condições de trabalho dignas, evoluiu para um debate ainda maior. Para David S. Goyer – de longas-metragens como Batman Begins e co-criador da série Sandman – o tema apresenta um perigo para a sociedade como um todo, e não apenas no âmbito das profissões que envolvem criatividade.  

“Eu acredito que devemos ter medo das IAs, sim. Com certeza”, afirmou um contundente Goyer durante entrevista exclusiva ao Omelete sobre a série Fundação, do Apple TV+, na qual atua como showrunner. 

“Essa é uma das razões pelas quais os roteiristas e os atores estão em greve. Mas não apenas porque ela pode tirar seus empregos. Acredito que a IA poderia representar uma ameaça existencial para a sociedade. Precisamos ter muito cuidado ao permitir que esse gênio em particular saia da garrafa.”

O medo do ChatGPT

Iniciada em 2 de maio, a greve dos roteiristas tem a inteligência artificial como um dos seus debates mais acalorados. O Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos (WGA, da sigla em inglês) argumenta que o uso indiscriminado da IA, no futuro, poderia levar à substituição de redatores humanos por máquinas. Ao mesmo tempo, isso criaria uma desconexão entre as histórias e o público – causando danos ainda maiores para a indústria audiovisual. 

Na visão da organização, IAs – como o ChatGPT – deveriam ser usadas somente como “ferramentas” para pesquisa e para ajudar com ideias. Já a AMPTP, associação que representa estúdios, canais e streamings nas negociações laborais, afirmou apenas que o assunto “precisa de mais discussão”. Porém, os roteiristas dizem que os executivos não querem debater qualquer regulamentação. 

A polêmica ganhou novos contornos nesta semana. Desde esta quinta (13), os atores também entraram em greve – paralisando de vez as produções norte-americanas. Ainda que questões salariais estejam no topo das reivindicações, parte das demandas também envolve o uso de IA.

“A inteligência artificial já provou ser uma ameaça real e imediata ao trabalho de nossos membros e pode imitar as vozes, semelhanças e performances dos membros”, afirmou o SAG-AFTRA, que representa o setor, por meio de uma nota no começo de junho. 

“Precisamos obter acordo sobre usos aceitáveis, negociar proteções contra uso indevido e garantir consentimento e compensação justa pelo uso de seu trabalho para treinar sistemas de IA e criar novas performances. Em suas declarações públicas e trabalho de políticas, as empresas não têm demonstrado desejo de levar a sério os direitos básicos dos nossos membros sobre suas próprias vozes e semelhanças.”

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