Ingresso sobrando? Eu compro!

Qualquer frequentador de estádios, arenas e casas de espetáculos no Brasil já deparou com cambistas trabalhando livremente nos arredores do evento, abordando aos berros qualquer pessoa que passa. Mas esse tipo de atividade não é exclusividade do Brasil. Muito pelo contrário: até pouco tempo, em qualquer lugar do planeta, era possível encontrar gente vendendo ingresso na porta de estádios e eventos.

Entretanto, nos Estados Unidos, essa classe de “trabalhadores” está quase em extinção, pelo menos nas portas de jogos e shows. Mas que estratégia foi adotada por lá para afastar os revendedores de ingressos dos arredores dos grandes eventos? Errou quem apostou em leis rigorosas e fiscalização intensiva. Na verdade, a estratégia adotada foi quase o oposto. Nos EUA, eles seguiram à risca o velho ditado: “Se não pode contra eles, junte-se a eles”.

Na realidade, o que as grandes tiqueteiras (empresas de vendas de ingressos) fizeram foi oficializar, facilitar e popularizar a revenda de ingressos. Desse modo, qualquer pessoa pode, de forma simples e rápida, colocar os seus ingressos, de qualquer evento esportivo, para revender. 

Funciona assim: ao comprar um tíquete, aparece a opção de colocá-lo para revender na mesma plataforma oficial de vendas. Ou seja, após poucos cliques, aquele ingresso é colocado de volta no mercado. Se alguém comprar, o dono do ingresso ganha dinheiro; se ninguém se interessar, ele recebe uma mensagem de que o ingresso não foi vendido e pode ser utilizado pelo dono original. A modalidade é tão discreta que o “segundo” comprador mal percebe que o ingresso adquirido se trata de uma revenda.

Contudo, para evitar que a revenda de ingressos se torne uma prática abusiva e com preços exorbitantes, foram adotadas algumas medidas de prevenção e segurança. Primeiramente, todos os ingressos devem ser lidos nas catracas dentro de ambientes on-line, isto é, o torcedor deve apresentar o ingresso no seu celular, não existindo mais a modalidade de ingressos impressos. Isso faz com que os repasses para terceiros tenham que ser feitos obrigatoriamente dentro da plataforma oficial de ingressos.

Outro ponto importante para o sucesso da revenda é a precificação dinâmica, ou seja, o próprio mercado regula o valor dos tíquetes, evitando preços desproporcionais. Se a procura for alta, o valor sobe, mas, se a demanda for baixa, a revenda pode sair até mais barata do que o preço original. Não é difícil encontrar ingressos por apenas US$ 1.

A revenda de ingressos é benéfica para todos os agentes envolvidos na realização dos eventos. Os clubes, por exemplo, ganharam um argumento poderoso para a venda dos “season tickets” (pacotes de ingressos para toda a temporada), afinal de contas, o torcedor, além de poder garantir todas as entradas antecipadas nos jogos do seu time, ainda pode ganhar dinheiro, ou, pelo menos, deixa de perder nos jogos que não tem condição de ir. Outra vantagem para clubes e estádios é a possibilidade, dependendo do tipo de acordo com a tiqueteira, de ganhar tanto na venda quanto na revenda, faturando ainda mais em grandes jogos.

Nós, torcedores, temos a segurança de que estamos comprando um ingresso oficial. A oferta de ingressos para os jogos aumenta, uma vez que ninguém “morre com o ingresso na mão”, e o valor do ingresso revendido é regulado pelo mercado, não ficando somente na mão dos cambistas.

Em resumo, a revenda de ingressos é uma solução simples que pode ajudar muito os clubes, os estádios e as arenas a encherem os seus jogos, dependendo cada vez menos dos resultados esportivos.

Romulo Macedo é chefe de operações de mídia da Copa América 2024 e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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