Japão investe em projeto para ter liga de vôlei mais competitiva do mundo até 2030

Houve um tempo em que o Japão representou uma das principais escolas de vôlei do mundo, sobretudo a partir da década de 1960, quando, impulsionada pelos Jogos Olímpicos de Tóquio, de 1964, a nação asiática montou seleções competitivas e alcançou resultados expressivos, tanto no masculino quanto no feminino.

Nas décadas seguintes, a experiência japonesa serviu de modelo para outros países, entre eles o Brasil. Nesse meio tempo, o Japão optou por criar uma reserva de mercado para seus atletas, limitando a contratação de jogadores estrangeiros. O resultado foi que sua liga local se estagnou, enquanto o restante do mundo avançava.

Mas o momento do vôlei japonês é outro. Aproveitando o entusiasmo criado pelos Jogos Olímpicos de Paris 2024, a Daido Life S.V League, que organiza os campeonatos masculino e feminino da modalidade no país, resolveu lançar um projeto que é descrito como o “renascimento” do esporte no Japão.

A meta declarada é ousada: criar a liga de vôlei mais competitiva do mundo, até 2030. Para isso, a S.V League decidiu elevar a presença de atletas estrangeiros nos times.

“Anteriormente, para proporcionar oportunidades aos jogadores japoneses, o número de jogadores estrangeiros era limitado a um. Agora, esse número foi expandido para dois jogadores em quadra (mais um jogador da Ásia, sem limite no número total de jogadores registrados). As equipes também estão trabalhando para fortalecer seus sistemas de acomodação para jogadores estrangeiros, incluindo a oferta de intérpretes”, explicou o presidente da S.V League, Masaaki Okawa, em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte.

Entre as estrelas estrangeiras da nova Daido Life S.V League estão os brasileiros Ricardo Lucarelli, Alan Souza e Rosamaria Montibeller. A abertura do campeonato masculino será nesta sexta-feira (11), enquanto o feminino terá início no dia seguinte.

Premier League do vôlei?

O objetivo inicial da S.V League é profissionalizar por completo todos os clubes, até 2027. “Para alcançar isso, precisamos criar um negócio que faça com que os principais jogadores do mundo queiram jogar no Japão. Atualmente, o volume de negócios da liga é de aproximadamente ¥ 900 milhões (R$ 33 milhões), mas temos como objetivo aumentar esse valor para ¥ 3 bilhões (R$ 110 milhões) até 2027 e ¥ 6 bilhões (R$220 milhões) até 2030, esforçando-nos para expandir o tamanho do mercado para a liga como um todo”, afirmou o Okawa.

Embora as somas envolvidas sejam proporcionalmente inferiores aos bilhões que circulam nas ligas de futebol mais badaladas do planeta, impossível não fazer um paralelo com a Premier League ou mesmo a Saudi Pro League, duas competições que investem de maneira massiva na contratação de estrelas internacionais, como forma de elevar seu nível técnico e sua projeção global.

Mas a inspiração desse projeto de renascimento do vôlei do Sol Nascente veio de experiências locais vivida pelo país no basquete, com a B-League, e do futebol, com a J-League.

“Quando observamos o crescimento da J-League no futebol nos últimos 30 anos e o rápido crescimento da B-League no basquete, há uma sensação de urgência de que o formato de esportes corporativos poderia ser deixado para trás. Nosso objetivo é aproveitar o impulso do entusiasmo das Olimpíadas de Paris e usar o primeiro ano como trampolim para o crescimento dessa nova liga de vôlei”, explicou Okawa.

O caminho percorrido por esse projeto do vôlei é bem parecido ao adotado pelo futebol japonês, nos anos 1980 e 1990, e não apenas pela contratação dos astros internacionais (Zico foi um deles). A estratégia envolve a colaboração com a série de mangá e anime Haikyu!!, que conta a trajetória de Shōyō Hinata, um estudante de ensino médio de baixa estatura, que decide superar todos os obstáculos para se tornar um campeão no esporte.

Essa incursão pelo mundo dos quadrinhos foi utilizada pelo futebol japonês nos anos 1980, com a série de mangá e anime Captain Tsubasa, aqui conhecida como Supercampeões, que narrava a história de um adolescente cujo sonho era se tornar jogador de futebol e, para isso, enfrentava uma série de dificuldades, sempre vencidas com sua força de vontade e garra para lutar.

“Esperamos que Haikyu!! possa servir como uma porta de entrada para que os fãs desenvolvam interesse pelo vôlei japonês”, disse o presidente.

A S.V League estabeleceu, para esta nova fase, metas de público médio de 2.800 espectadores para jogos masculinos (contra 2.180 na temporada passada) e 2 mil espectadores para as partidas femininas (frente a 1.562 no último campeonato). “Junto com a profissionalização das equipes, nosso objetivo é amadurecer ainda mais o vôlei como esporte de espectadores”, afirmou Okawa.

Projeto é sustentável, garante presidente

Em tempos recentes, o mundo esportivo viu diversas tentativas de nações que investiram pesado, visando criar campeonatos altamente competitivos. Foi o caso da China no futebol, por exemplo, que, no início deste século, passou a atrair jogadores do mundo todo, com salários astronômicos.

Com o tempo, porém, o país resolveu adotar uma política de tetos salariais, ocasionando uma debandada de astros. A nova bola da vez passou a ser a Arábia Saudita, com os fortes investimentos estatais visando se tornar uma potência esportiva. Difícil prever até quando isso vai durar, porém.

No caso do vôlei japonês, Okawa garantiu que o projeto é sustentável e veio parar ficar. “Ao contrário do desafio de plantar sementes em países sem tanta tradição competitiva no esporte, como mencionado anteriormente, a Daido Life S.V League no Japão é um novo empreendimento em um país com uma rica tradição no vôlei. O Japão já tem a força para almejar o topo do mundo, e também temos jogadores populares. No entanto, como o vôlei não foi seriamente abordado como um negócio, acreditamos que ainda há um potencial significativo inexplorado”, explicou.

Patrocinadores

Para levar adiante o projeto de se tornar a maior liga de vôlei do mundo, a S.V League foi em busca de diversos patrocinadores, incluindo a Daido Life, empresa de seguros japonesa que detém o naming right da competição.

“Em nossas negociações com empresas, além de compartilhar nossa visão ambiciosa, também me baseei na minha própria experiência cultivada na J-League e B-League. Apresento cuidadosamente os planos da liga, estratégias de negócios e como a liga pode contribuir para a sociedade além do esporte, para incentivar possíveis parcerias. Junto com nossas empresas parceiras, trabalharemos não apenas para o desenvolvimento da liga, mas também para contribuir com a criação de valor a longo prazo dessas empresas por meio do vôlei”, disse Okawa.

Esta é a lista completa dos parceiros da Daido Life S.V League:

Parceiro Titular: Daido Life (Seguros)

Parceiro Principal: Recuit Staffing (serviço de trabalho temporário)

Principal Parceiro Top: MUFJ Bank

Parceiro Oficial de Transmissão: J Sports

Parceiro Oficial de Ingressos: Lawson Entertainment

Parceiros Ouro: KTX (fabricante de moldes), TSP Taiyo (produção de eventos), Plenus (serviço de catering de caixas bento), Tixplus (serviço de e-ticketing), Hisamitsu Pharmaceutical, Mikasa (bola), Grupo Chuo-Nittochi (Imobiliária)

Parceiros de Apoio: Livedoor (serviço de TI), Skylight Consulting, ANA Foods, Mass (Merchandising), Sanyo Industries (construtora), SSK (artigos esportivos)

Parceiro de RP: PR Times (serviço de press release on-line)

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