No estádio pode… Até quando?

“Meu filho não fala palavrão em casa. Mas eu já disse que, no estádio, pode”.

Um homem abaixando as calças e mostrando a genitália para uma mulher. Outro respondendo de forma rude a um questionamento feito por uma repórter. Uma mulher morta por uma garrafa atirada em direção a torcedores de outro time. Cânticos racistas, homofóbicos e agressivos proliferados nas arquibancadas.

Não se assuste com essas situações relatadas acima.

Elas são parte do cotidiano de um ambiente em que tudo “pode”. Quem nunca ouviu ou disse a frase que abre essa reflexão/desabafo, que atire a primeira pedra. Ou melhor. Recolha a pedra. E pare para pensar um pouco.

Nas últimas semanas, vimos e ouvimos aberrações que aconteceram no ambiente do futebol brasileiro. Algo que choca as pessoas, mas que é reflexo de uma cultura que sempre incentivou o ódio, o menosprezo e a intolerância.

Ensinamos, desde criança, que o estádio de futebol é o local em que vamos para extravasar todas as nossas angústias. Lá podemos xingar à vontade. O jogador que erra o passe, o árbitro que anula o gol ou expulsa o craque do time, o torcedor que não é do meu time, o jogador que faz o gol sobre o meu time.

O futebol cultua o ódio. No mundo inteiro!

Em vez de nos apaixonarmos pelo jogo, criamos um ambiente em que é ensinado o ódio ao próximo. Pode até mesmo ser o jogador do meu time do coração, defendendo as cores que tanto admiro. Se ele não fizer do jeito que EU quero, será ofendido até pedir para sair.

Não deveríamos nos indignar com comportamentos grosseiros e estúpidos como os que Abel Ferreira, Dorival Júnior, Tite, Luis Zubeldía, Mano Menezes, Vanderlei Luxemburgo, Luiz Felipe Scolari, Muricy Ramalho, Artur Jorge, Pedro Caixinha, Petit e qualquer treinador de futebol tenham. Eles são apenas reflexo de uma cultura de ofensas.

“No estádio pode” é uma das frases que precisariam ser abolidas do vocabulário da bola.

É importantíssimo cobrarmos de quem comanda o esporte atitudes exemplares contra desmandos de quaisquer tipos. Mas e o nosso comportamento? De que forma ele influencia na criação de um ambiente quase sempre hostil?

Enquanto não mudarmos, na raiz, os motivos pelos quais gostamos de futebol, não iremos nunca combater a violência. Se continuarmos a traduzir a paixão pelo futebol com o dever do meu time ganhar, teremos sempre um ambiente tóxico quando o assunto é o futebol.

Você já parou para admirar o gol do time adversário ao seu? Ou parou para querer ir a um estádio apenas para ver um determinado jogador ou equipe? Ou ligou a TV para ver a partida da vez, só pelo prazer de assistir a um jogo?

Tente fazer esse exercício da próxima vez que for acompanhar qualquer evento esportivo. E tente aplicar essa cultura no seu dia a dia de trabalho no esporte. Assim como na rua, em casa, na escola e no trabalho, no estádio pode tudo. Tudo que for dentro da lei, da ética e do que é correto.

Não adianta só ficar indignado com a agressividade do outro. É preciso combater o minihooligan que existe em cada um de nós desde o primeiro jogo que vimos na vida.

Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo

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