O fair play mantém a NFL atrativa

Na semana passada, a NFL finalmente aterrissou no Brasil com um jogo oficial da temporada regular. Como já era esperado, o evento foi um sucesso absoluto e  ganhou muita repercussão nas redes sociais e até na mídia tradicional. Em uma Neo Química Arena lotada, os jogadores norte-americanos puderam sentir a atmosfera da torcida brasileira, absolutamente fanática pela modalidade.

O que há alguns anos era um esporte de nicho, em que poucos aficionados tinham até certa dificuldade para acompanhar as partidas, agora definitivamente caiu no gosto do grande público. Como apontado aqui, na Máquina do Esporte, em uma pesquisa do Ibope Repucom, o futebol americano desperta o interesse de 41 milhões de brasileiros. É um número extremamente expressivo para uma modalidade que não possui uma liga regular forte no país.

A chegada da NFL ao Brasil faz parte de um ambicioso projeto de internacionalização da liga para conquistar fãs em novos territórios do planeta e definitivamente se tornar um esporte global. Para a próxima temporada, já está confirmado um jogo em Madri, na Espanha, dentro de um templo do futebol mundial, o recém-reformado Santiago Bernabéu.

O sucesso da NFL no Brasil e no mundo passa diretamente pelo trabalho árduo de todos da liga em tentar manter uma igualdade competitiva entre todos os times. Sabendo que concentrar o poderio financeiro e esportivo em um ou poucos times afasta o interesse do torcedor em acompanhar o esporte, a NFL possui toda uma estrutura para tentar manter essa igualdade entre todos.

Tudo começa pelo sistema de draft, a seleção dos melhores jogadores universitários. A ordem das escolhas segue o reverso da posição alcançada pelos times na temporada anterior, assim sendo o último colocado na tabela tem o direito à primeira escolha, enquanto o campeão fica com a 32ª escolha da primeira rodada.  Evidentemente, os primeiros jogadores selecionados tendem a ser os mais talentosos e os que mais se destacaram no futebol americano universitário, o que deixa os piores times da temporada que terminou mais fortes para a que começará. 

Mas a preocupação com a igualdade competitiva das equipes é tamanha que o draft possui uma regra de escolha compensatória, que como o nome já diz serve para compensar as equipes que perderam jogadores. Como isso funciona? Nas duas primeiras rodadas do draft, cada uma das 32 franquias tem o direito de selecionar futuros talentos. Já entre as rodadas 3 e 7, algumas equipes podem ganhar o direito de escolhas extras para compensar a saída de atletas. A quantidade de escolhas e a posição das mesmas no draft são predefinidas em função da quantidade, salários e posições dos jogadores perdidos pelas equipes. Por regra, cada time pode receber no máximo quatro escolhas compensatórias, mas se uma equipe perder o técnico principal ou gerente-geral para um outro time, ela pode ser elegível a receber mais uma escolha extra, totalizando até cinco escolhas a mais.

Outra regra criada para manter a igualdade entre as 32 equipes é o “Salary Cap” (“Teto Salarial”, em tradução livre). Cada time tem um limite de US$ 255,4 milhões para gastar com salários e premiações dos jogadores na temporada 2024/2025, um aumento de US$ 30,6 milhões em relação à temporada 2023/2024. Os times que desrespeitarem essa regra recebem multas severas e, dependendo da gravidade, podem até perder posições no draft ou serem impossibilitados de registrar jogadores. 

Outro mecanismo criado para a manutenção da equidade financeira entre todos é a maneira de distribuição de receitas. Desde 1960, todas as 32 equipes recebem exatamente o mesmo valor dos milionários contratos de televisão, independentemente dos resultados esportivos. Além disso, todas as receitas de patrocínios e licenciamentos nacionais da NFL são distribuídas de forma igual entre todos. Até parte dos valores (34%) da venda de ingressos de cada partida são repartidos de maneira igualitária. 

Com uma distribuição tão igualitária, que se soma a todos os outros mecanismos de equidade, a NFL consegue garantir uma certa igualdade financeira e esportiva entre todas as franquias, impedindo a criação de superequipes capazes de ganhar tudo, todos os anos. Dessa maneira, assegurando a imprevisibilidade dos resultados, a liga vai ganhando mercado globalmente. 

Fazendo um paralelo, a discussão do fair play financeiro que apareceu recentemente nas conversas entre dirigentes e torcedores é extremamente relevante para o futuro do futebol brasileiro, mas, se olharmos para a NFL, vemos que ainda é muito pouco para garantir uma liga com resultados imprevisíveis e, consequentemente, muito mais atrativa para todos os fãs.

Romulo Macedo é mestre em Gestão da Experiência do Consumidor, especialista em Gestão Esportiva com papéis relevantes em diversos eventos esportivos mundiais e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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