O que pode acontecer à CBF, após a retorno de Ednaldo Rodrigues ao cargo? 

Nos dias que correm, as coisas na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) lembram muito os campeonatos que ela própria costumava “organizar”, nas décadas de 1980 e 1990. 

Você até sabia como a coisa começava, mas não fazia a menor ideia de como terminaria, pois sempre havia a chance de surgir uma liminar da Justiça (fosse ela desportiva ou comum) para embolar a competição.  

Instituição que ajudou a popularizar o termo “tapetão” no imaginário do povo brasileiro, a CBF agora vê seu próprio destino ser decidido com base em manobras judiciais.  

A última delas foi a liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na quinta-feira (4), determinando o retorno de Ednaldo Rodrigues à presidência da entidade, da qual havia sido afastado em 7 de dezembro de 2023, pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ).  

De volta ao cargo, Rodrigues, que vinha de forte desgaste político antes mesmo de cair pelas mãos dos desembargadores fluminenses, resolveu dar ares de normalidade à situação e correu buscar uma nova comissão técnica para a seleção brasileira, para substituir o ex-interino Fernando Diniz e o italiano Carlo Ancelotti, aquele que foi, sem nunca de fato ter sido.  

A aparente tranquilidade de Rodrigues, enquanto ventila pela imprensa as possíveis contratações do técnico Dorival Júnior, hoje no São Paulo, ou do ex-jogador Filipe Luís (cotado para coordenador técnico), esconde um momento nebuloso e repleto de incertezas para o futebol brasileiro.

E são esses possíveis cenários que a Máquina do Esporte irá  analisar, a partir de agora.  

Liminar é frágil e, ao mesmo, tempo poderosa

Liminares não são decisões judiciais definitivas e podem ser cassadas a qualquer momento, antes mesmo de serem analisadas por um órgão colegiado. A que devolveu Rodrigues ao cargo visava evitar um possível dano irreparável.  

No caso, a possibilidade de a seleção brasileira ficar de fora dos Jogos Olímpicos de Paris deste ano, pelo fato de que a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) não reconhecer José Perdiz, que ocupava a presidência interina da CBF, como um representante legítimo. 

Essa notícia foi ventilada na quarta-feira (3), um dia antes de a liminar de Gilmar Mendes ser proferida. A decisão do ministro ainda será analisada de maneira colegiada pelo STF, no começo de fevereiro.  

Nada garante que os demais membros da corte seguirão o entendimento de Mendes. À primeira vista, portanto, a cola que mantém Rodrigues preso à cadeira de presidente pode parecer frágil.  

Mas talvez ela seja poderosa o suficiente para garantir sua permanência no cargo – se não até o fim do mandato, pelo menos com tempo suficiente para promover medidas capazes de alterar a atual correlação de forças desfavorável.  

Na próxima segunda-feira (8), uma comitiva formada por integrantes da Conmebol e da Federação Internacional de Futebol (Fifa) deverá ir ao Rio de Janeiro e visitar a sede da CBF, para se inteirar da situação.  

A liminar obtida no STF poderá representar um trunfo e tanto para que Rodrigues convença as entidades a bancarem sua permanência no posto máximo do futebol brasileiro, mesmo desgastado com federações estaduais e clubes.  

Fator vice 

Se essa solução “de cima para baixo” vier, não será garantia de que Rodrigues passará a contar com tempos tranquilos para administrar o futebol brasileiro, sobretudo porque, nas últimas semanas, dois grupos vinham se articulando publicamente, visando disputar o poder na CBF.  

As chances de Rodrigues recuperar-se do desgaste sofrido ao longo dos meses aparentam ser bem complicadas. Em todo caso, quando o assunto é política, é muito comum ocorrer de polos em disputa se acomodarem.  

Mas existe um outro fator que pode entrar em campo e mudar tudo, para que as coisas permaneçam como estão. Há algumas semanas, circulou nos bastidores a informação de que o vice-presidente da CBF, Gustavo Feijó, havia se reaproximado de Rodrigues, buscando costurar um acordo.  

Os dois andaram rompidos no ano retrasado. Mais recentemente, Feijó passou a articular uma candidatura à presidência da CBF, para se contrapor a Reinaldo Carneiro Bastos e Flavio Zveiter, que também sonham com o cargo.  

Um grande acordo no futebol nacional – com a Fifa, o Supremo e tudo – poderia, portanto, começar com o retorno de Rodrigues à presidência e terminar com Feijó assumindo a cadeira, após a renúncia do titular.  

Clubes estão mesmo unidos? 

A forte mobilização de 30 clubes e oito federações em favor da candidatura de Carneiro Bastos à presidência da CBF, com direito a críticas à gestão do futebol brasileiro, poderia soar como um sério alerta para o grupo que tenta permanecer à frente da entidade, agarrado à figura de Ednaldo Rodrigues.  

Hoje, porém, é difícil cravar, com certeza, se os clubes estão de fato unidos em torno da construção de uma alternativa de poder, ou se a “rebelião” deveu-se ao vácuo momentâneo de poder na CBF.  

É fato que o presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF) conseguiu angariar apoios públicos de clubes importantes, não apenas de São Paulo, mas também de Minas Gerais, Ceará, Paraná e Rio Grande do Sul. Na lista de seus apoiadores, porém, não constam times como Flamengo, Botafogo, Vasco, Grêmio ou Bahia.  

Aliás, apenas um grande time do Rio de Janeiro, o Fluminense, endossou publicamente a pré-candidatura do cartola paulista.  

Dessa forma, não é possível saber se a resistência a Ednaldo Rodrigues será forte e generalizada entre os clubes (ou mesmo se ela existirá). 

Um aspecto que ajuda a tornar mais indefinido o cenário é que, por ora, representa uma incógnita o posicionamento a ser adotado pelo grupo que orbita Flavio Zveiter. Não está claro se essa ala será ou não de oposição.  

Nos bastidores, o clima entre os apoiadores de Carneiro Bastos é de indignação, com muitos murmúrios contra a liminar do STF.  

Já no grupo de Rodrigues, o silêncio sobre política é total. O atual presidente está focado em produzir notícias sobre a seleção brasileira – como a demissão do técnico Fernando Diniz, oficializada na tarde desta sexta-feira (5). Enquanto isso, segue a dúvida sobre o futuro das estruturas que fazem o futebol brasileiro funcionar ao longo do ano.  

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