Apesar de aparentar estar cada vez mais distante no horizonte, a criação de uma liga unificada no futebol brasileiro ainda é um sonho acalentado pelos dirigentes das principais equipes do país.
Em entrevista exclusiva a Erich Beting, da Máquina do Esporte, o CEO da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Atlético-MG, Bruno Muzzi, defendeu a união dos clubes, hoje divididos em dois grupos distintos, a Liga do Futebol Brasileiro (Libra), da qual a equipe mineira passou a fazer parte, e a Liga Forte União (LFU), antiga Liga Forte Futebol (LFF), que já teve o Galo como integrante.
“Estou à frente dessas negociações pelo Atlético-MG e eu sou um defensor ferrenho, dentro da Libra, de que a gente precisa achar caminhos para ter uma liga única”, afirmou Muzzi.
Na visão dele, entre as mudanças positivas que uma liga unificada poderia propiciar ao futebol brasileiro estão a negociação em conjunto de direitos comerciais e de mídia, além do fair play financeiro e da governança.
Segundo o executivo, porém, “os caminhos foram traçados”, com os clubes tendo de aderir a um dos grupos que disputam a hegemonia da criação da futura liga.
“Cada um tinha que tomar suas decisões, e tomamos a nossa para não perder dinheiro”, disse. “Havia dois blocos separados e, em algum momento, achamos que o mais inteligente era estar com a Libra”, prosseguiu.
Segundo Mussi, a gestão da SAF considerou prematura a proposta de vender parte dos direitos do Atlético-MG por um longo período, a um grupo de investidores, embora reconheça que existia a “necessidade desesperadora de colocar dinheiro para dentro” do Galo.
“Acho que muitos dos clubes de lá [da LFU] foram em função disso [do dinheiro adiantado pelos investidores], e estávamos tentados a isso. Mas concluímos que estava muito imaturo vender 20% de uma participação por 50 anos, para uma liga ainda que não existe”, afirmou.
No ano passado, um grupo de empresas investiu R$ 2,6 bilhões na aquisição de 20% dos direitos comerciais dos times da LFU por um período de 50 anos. Participaram dessa transação a norte-americana General Atlantic (GA) e as brasileiras XP Investimentos e Life Capital Partners (LCP).
O executivo do Galo elogiou o acordo firmado pela Libra com o Grupo Globo, para o ciclo entre 2025 e 2029. “A gente fez um bom negócio”, avaliou.
Entre os pontos destacados por ele está a decisão do Flamengo de abrir mão de receitas com direitos de TV, para que o contrato pudesse ser fechado de forma coletiva e com menor disparidade nos ganhos dos clubes que aderiram ao acordo.
Por outro lado, ele demonstrou preocupação com o desnível que pode vir a surgir entre os clubes da Libra e os da LFU, que ainda não fecharam a venda de seus direitos de mídia.
“O pior que pode acontecer é um desequilíbrio. Se houver, será ruim para o campeonato brasileiro”, disse. De acordo com ele, as conversas entre os dois grupos existem, mas reconhece que o diálogo envolve questões complexas.
“Os papéis lá também ainda têm que estar bem definidos, porque você tem o investidor, você tem a Live Mode organizando [a venda dos direitos de mídia]. O investidor é o Carlos Gamboa [da LCP] e a Live Mode teve aporte de um fundo chamado General Atlantic, que fez o investimento nela. Então, há esses interesses ali para poder organizar”, avaliou.
Com relação à venda dos direitos internacionais de mídia do Brasileirão, que segue indefinida neste ano, Muzzi disse acreditar que a renda proveniente desse negócio continuará sendo pequena, até que de fato o país “tenha uma liga única para ser transmitida no mundo”.
Ele também afirmou que os direitos internacionais de apostas da competição estão sendo negociados em conjunto, pelas equipes que integram a Libra.
Com relação ao retorno do Corinthians ao grupo e a eventual adesão do clube paulista ao contrato com o Grupo Globo para a venda dos direitos de TV a partir de 2025, Muzzi explicou que as conversas existem, mas fez uma ressalva: “O Corinthians ainda é uma incógnita.”
O contrato da Globo com a Libra – incluindo Santos, caso ele consiga subir para a Série A do ano que vem – prevê o pagamento de um mínimo garantido de R$ 1,3 bilhão ao ano, pelos direitos de TV dos clubes que integram o bloco.
Caso o Corinthians não entre nesse acordo, o montante final terá redução de 10%, o equivalente a R$ 130 milhões.