Principal reforço do Al Hilal, Neymar foi mais uma estrela do futebol mundial a se mudar para a Arábia Saudita. A decisão do astro pegou muitos de surpresa, o que também trouxe algumas críticas pelo fato de o camisa 10 ter deixado a Europa com 31 anos para atuar em uma liga alternativa.
Revelado pelo São Paulo e com passagens por Fluminense, Grêmio e Internacional no futebol brasileiro, o ex-lateral-direito Gabriel é amigo pessoal do novo astro dos Blue Waves e, em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br, contou o que ouviu de Neymar sobre as suas primeiras impressões na Arábia Saudita.
Gubela, como ficou conhecido no mundo da bola, também saiu em defesa do astro, dando apoio à escolha feita por Ney de dar início a um novo capítulo na carreira, depois de passar por Santos, no Brasil, além de Barcelona e Paris Saint-Germain, na Europa.
“O que ele me falou foi o seguinte: estou feliz, vou criar a minha filha aqui, vou viver um tempo com a minha família aqui na Arábia Saudita, e depois vou ver o que acontece. Lá ele vai ficar afastado de toda essa pressão, de tudo isso, claro que, hoje, com a rede social, não tem muito para onde correr, mas vai viver dois anos com a família dele, se Deus quiser vai ser de glória e vitória lá, e vai bater recorde, vai continuar jogando e encantando o mundo com o futebol, e depois vai pensar no que vai fazer. Foi isso que a gente falou na última conversa”, começou por dizer Gabriel, que citou as críticas feitas a Neymar sobre a ida para o Al Hilal.
“O que acontece é o seguinte: o povo brasileiro, como a gente sabe, todo mundo é técnico, todo mundo é expert em futebol, todo mundo entende de tudo, todo mundo quer dar pitaco na vida dos outros. Eu até fiz um post dizendo que todo mundo tem os seus problemas, na maioria das vezes a gente não consegue resolver os nossos problemas, mas o problema do outro é fácil de resolver. As pessoas criam uma expectativa do outro, e aí partindo desse princípio, quando as coisas não acontecem você fica desanimado, você não gosta da decisão do outro e você acaba criticando ou dando a sua opinião”, prosseguiu.
“O cara tem 30 anos, é dono da vida dele, então ele decide o que quiser. Não adianta criar uma expetativa dele ‘nossa, eu queria que o Neymar fosse 10 vezes melhor do mundo’, ‘ah, ele não foi 10 vezes melhor do mundo, então não joga nada, não presta’. É assim que as pessoas pensam. O cara tem a família dele, tem o estafe dele, que ajuda ele a decidir sobre a carreira e a vida. Está fez um contrato milionário de dois anos, não é só questão de dinheiro, mas o dinheiro para ele importa, como para todo mundo importa. Eu quero ver cada um se colocar na situação dele, porque na situação do outro é mole falar, ‘eu não iria jamais’, aí pinga um mar de dinheiro na sua frente falando ‘vem, dois aninhos’, e você vai falar ‘não, não vou’. É muito complicado você tomar essa decisão, apesar de parecer fácil. São dois anos na Arábia, vai continuar jogando, alegrando e encantando o futebol do mundo. Vários outros craques do futebol mundial foram para lá, o próprio Cristiano Ronaldo, Benzema, um monte, e ele não foi diferente. Foi uma decisão que ele achou melhor. Mandei uma mensagem para ele ‘estou com você, são dois aninhos, daqui a pouco você decide se volta para o Brasil, vai para os Estados Unidos, você volta para a Europa’. Futebol ele tem para queimar aí mais um tempão”.
No Al Hilal, além de outros nomes conhecidos do futebol, como Milinkovic-Savic e até mesmo os brasileiros Malcom e Michael, Neymar será comandado por Jorge Jesus, que teve uma passagem vitoriosa no Brasil pelo Flamengo. E Gabriel aposta que a parceria entre Ney e o Mister tem tudo para ser de sucesso.
“Espero que continue vitoriosa, um treinador vitorioso com um jogador vitorioso. Com certeza o Neymar é um jogador que qualquer técnico gostaria de ter no seu time, e o Jorge Jesus vai ter a oportunidade de fazer um trabalho muito legal junto com ele, de repente fazer história na Arábia. Espero que essa conexão seja vitoriosa”.
Em relação ao futuro de Neymar após o contrato de dois anos que firmou com o Al Hilal, Gabriel revelou que acredita que o astro tem, sim, condições de voltar à Europa e jogar em alto nível. O ex-jogador ainda citou os Estados Unidos como uma possibilidade para o camisa 10 no futuro, vide a presença de outras estrelas como Lionel Messi e Sergio Busquets na Major League Soccer (MLS) neste momento.
“Claro que teria espaço (na Europa). Tudo vai, na verdade, do cansaço psicológico do jogador. As pessoas acham que é muito fácil, acabou o contrato, ainda vou jogar mais cinco, seis, sete anos. Na verdade, tudo isso que acontece de pressão, de crítica, ‘ele é o melhor jogador do Brasil, hoje, ele tem que estar preparado para receber as críticas’. Só que isso vai cansando o psicológico do atleta, as pessoas nunca pensam nisso, mas isso vai cansando, chega uma hora que você fala ‘cara, sinceramente, não quero mais essa encheção de saco para a minha vida, estou com o burro na sombra, com a minha família estabilizada. Vou jogar sabe aonde? Na Tailândia, lá ninguém enche o meu saco’. ‘Ah, mas ele podia ser o melhor’, ‘mas eu não quero saber de ser o melhor’. Alguém já perguntou para ele ‘as decisões que você tomou na sua vida você ficou satisfeito, você ficou feliz?’. Se ele falar ‘fiquei feliz’, acabou, vai cair tudo por terra o que as pessoas pensam, a expectativa que os outros criaram”, disse.
“Eu acredito, até pelo que já conversamos, que os Estados Unidos ainda estão no radar dele. É um país que tem uma qualidade de vida maravilhosa, o futebol tem crescido para caramba, tanto se falando de business quanto o nível do futebol, que aqui tem crescido bastante. Os Estados Unidos estão no radar dele, e acho que pode ser uma das opções depois da Arábia, sem dúvida nenhuma”, finalizou.