Paris 2024 faz ginástica dos EUA recuperar interesse de marcas após escândalo de caso Nassar

A federação norte-americana de ginástica (Usag, na sigla em inglês) conseguiu recuperar a imagem da entidade e da modalidade nos Estados Unidos que havia sido fortemente abalada após o escândalo do Caso Larry Nassar, ex-médico da equipe nacional da modalidade condenado a 175 anos de prisão por abuso sexual contra atletas.

Mesmo com várias denúncias de ginastas contra o profissional, por anos seus crimes foram abafados por membros da Usag. A crise de imagem da ginástica dos Estados Unidos fez empresas se afastarem da federação. A Usag perdeu os patrocínios de AT&T, Hershey’s, Kellog’s e Under Armour, entre outros parceiros comerciais.

O trabalho para a reconstrução do portfólio de patrocínio passou pela valorização das atletas. Simone Biles, sua principal estrela, por exemplo, enfrentou problemas de saúde mental e se afastou de competições durante os Jogos de Tóquio 2020.

Os Estados Unidos pode ter perdido medalhas que contava como certas que seriam conquistadas por Biles, mas a federação mostrou compreensão com os problemas enfrentados por sua principal estrela e apoiou  sua recuperação durante os Jogos.

Paris 2024

Em Paris 2024, a Usag mostrou grande desempenho, conquistando 10 medalhas apenas na ginástica artística (3 ouros, 1 prata e 6 bronzes). A modalidade é, até o momento, o terceiro esporte que mais contribuiu para a campanha da delegação na França.

A ginástica fica atrás apenas dos dois esportes que usualmente mais conquistam medalhas para os Estados Unidos: natação e atletismo. Nas piscinas foram 28 pódios (8 ouros, 13 pratas e 7 bronzes). Já na pista e campo o país já amealhou 10 medalhas (3 ouros, 4 pratas e 4 bronzes), mas as provas só finalizam no próximo domingo (11), com a maratona feminina.

Na capital francesa, Simone Biles, que já é considerada por muitos a maior ginasta da história, contribuiu para a campanha com 3 ouros (individual geral e salto, além de participar da conquista por equipes), e uma prata (solo), quando perdeu para a brasileira Rebeca Andrade.

Em sua carreira olímpica ela soma 7 ouros, 2 pratas e 2 bronzes, embora ainda esteja atrás da soviética Larisa Latynina (9 ouros, 5 pratas e 4 bronzes), que competiu entre Melbourne 1956 e Tóquio 1964.

Patrocínios

A recuperação da imagem da Usag também passou pela gestão. A entidade contratou Li Li Leung como CEO em 2019. Executiva vinda da NBA ex-ginasta, Leung ajudou a atrair novamente as marcas. Em 2023, a federação assinou com a Nike seu maior contrato de fornecimento de material esportivo.

A Usag também assinou com a Comcast, dona da NBCUniversal, detentora dos direitos de transmissão das Olimpíadas nos Estados Unidos. Também chegaram a Core Hydration (água) e Samsonite (malas).

Segundo Leung, no momento a Usag conversa com várias outras marcas e tem a expectativa de fechar novos contratos de patrocínio para o novo ciclo olímpico favorecida também pelo fator Los Angeles 2028.

“Temos tido muita sorte em atrair mais grandes marcas. Estamos assinando novos contratos e buscando alavancar ainda mais o sucesso não apenas aqui em Paris, mas com vistas a Los Angeles 2028”, contou Leung, em entrevista ao site SportsPro Media, referindo-se à próxima edição dos Jogos de Verão.

Caso Nassar

Quando Leung assumiu o cargo na Usag, há pouco mais de cinco anos, a federação se recuperava as consequências do escândalo Nassar. Centenas de atletas denunciaram o médico, inluindo Simone Biles e outras campeãs olímpicas como McKayla Maroney e Aly Raisman.

O caso causou danos significativos à reputação da Usag, que foi acusada de falhar no seu dever de proteger suas atletas. A entidade chegou a entrar com pedido de falência antes de Leung ser nomeada CEO.

A chegada da executiva representou a mudança de cerca de70% da equipe da federação. Segundo ela, houve mudança de mentalidade. A Usag deixou de focar em desenvolver atletas tecnicamente superiores para ganhar medalhas e passou a se preocupar mais com os valores desenvolvidos.

“Nossa missão é desenvolver nossos atletas de maneira holística. Nosso objetivo é que eles tenham a melhor experiência possível”, destaca a executiva.

“Acreditamos que se os atletas estiverem felizes e saudáveis ​​física emocional e mentalmente, terão bom desempenho. Então, a perfomance é o resultado final”

Li Li Leung, CEO da Usag

Estratégia

Leung conta que tomou a decisão de não buscar patrocinadores até que a Usag colocasse a “casa em ordem”. “Acredito que todos os parceiros comerciais fazem a devida diligência antes de assinar com uma entidade”, explica Leung.

“Estamos muito focados em fazer as coisas certas em vez de apenas falar que fazemos. Queríamos ter certeza de que a federação estavam prontas antes de começarmos a buscar patrocínios.

A receita obtida com essas parcerias será fundamental para reconstruir a Usag financeiramente. A entidade, juntamente com o Comitê Olímpico e Paralímpico dos Estados Unidos (USOPC) chegou, no final de 2021, a um acordo de US$ 380 milhões para indenizar as vítimas de Nassar.

 “Temos um orçamento saudável e buscamos melhorar. O que também queremos fazer é sermos capazes de fornecer recursos adicionais aos atletas”, afirma Leung.

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