Em 2024, a previsão é de que o Pantanal enfrente uma das piores secas já registradas no bioma. Uma análise do SOS Pantanal mostra uma grave escassez hídrica que ameaça diversos usos da água em todo o ecossistema, com rios atingindo níveis próximos ou abaixo do mínimo histórico. O cenário atual ainda se agrava com a alta de mais de 1000% dos incêndios florestais em comparação ao mesmo período de 2023, chegando a níveis próximos dos vistos em 2020, quando a região enfrentou os piores incêndios de sua história e teve mais de 26% de seu território consumido pelas chamas.
O estudo do SOS Pantanal destaca números críticos com relação à Bacia do Alto Paraguai, área de 361.848 km² que abrange territórios dos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Nos últimos seis meses foram registradas secas de moderada a grave na região, especialmente no sul do Mato Grosso, com impacto significativo em setores cruciais como abastecimento humano, navegação, geração hidrelétrica e atividades econômicas locais, incluindo pesca e turismo. As previsões para a BAP (Bacia do Alto Paraguai) não são otimistas, o que refletiu na declaração de escassez hídrica pela ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) até 31 de outubro de 2024.
A nota técnica do SOS Pantanal também indica claramente quais são as medidas que devem ser tomadas pelo poder público em diferentes instâncias, como a instalação imediata de sala de situação e comando integrado entre Corpos de Bombeiro de MT e MS, ICMBio, Ibama e SEMAs com especialistas de outras instituições do governo e da sociedade civil para acompanhamento das condições meteorológicas, propagação dos focos de calor, inventário de recursos e mobilização.
O instituto também encerrou no último dia 3 de junho um ciclo de reciclagem e capacitações das Brigadas Pantaneiras durante 35 dias em campo, treinando novamente as brigadas formadas em 2020 pela instituição, projeto que já se tornou essencial na prevenção e no combate a incêndios.
A Nota Técnica também traz propostas de curto e médio prazos que devem ser tomadas por diferentes instituições públicas estaduais e federais para enfrentar os incêndios deste ano e preparar para os dos anos seguintes.
Como a instalação de uma Sala de Crise para acompanhar de perto a situação na Bacia do Alto Paraguai, com integração entre o CBM-MT (Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso) e CBM-MS (Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul), ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), Ibama (Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e Sema (Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso), ao Imasul (Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul) e especialistas de outras instituições de governo e a sociedade civil.
Além disso, há o aconselhamento de que o Imasul, em MS, e o Sema, em MT, façam valer as políticas estaduais, especialmente no que tange às licenças de supressão para aceiros, queimas controladas e prescritas e licença de manejo integrado do fogo (MS); priorizem as ações de prevenção das principais áreas de risco de incêndios, e que elaborem um calendário anual para Manejo Integrado do Fogo em 2025, além de realização de chamadas públicas para que proprietários rurais possam aderir a ações preventivas.
Muitas dessas recomendações já haviam sido encaminhadas anteriormente, mas poucas foram efetivamente colocadas em prática.
Segundo Gustavo Figueirôa, biólogo e diretor de Comunicação do SOS Pantanal, “em 2024 completamos quatro anos desde o episódio catastrófico dos incêndios de 2020, e a sensação que dá ao ver esse cenário se repetindo é de que muito pouco foi feito. Ainda há uma dificuldade enorme em vermos os poderes estaduais e o governo federal atuando de forma integrada, tanto no combate mas principalmente na prevenção, que é a melhor estratégia para evitar essa tragédia. Reconheço que houve muitos avanços, tanto do poder público quanto da sociedade civil, mas muito dos avanços prometidos pelos órgãos públicos estão ainda engatinhando, enquanto os problemas causados pela seca e o fogo, turbinados pelas mudanças climáticas, estão correndo em ritmo de maratona”
Vale destacar a biodiversidade abrigada na área do Pantanal com mais de 4.700 espécies, sendo 3.500 de plantas, 650 de aves, 124 de mamíferos, 80 de répteis, 60 de anfíbios e 260 de peixes de água doce, sendo que algumas delas em risco de extinção.
Sobre o SOS Pantanal
Fundado em 2009, ao longo dos últimos 15 anos o Instituto SOS Pantanal atua na conservação do Pantanal, promovendo o aprimoramento de políticas públicas, a divulgação de conhecimento e o desenvolvimento de projetos para o uso sustentável do bioma. Fomentando as transformações necessárias por meio da ciência e do diálogo com os diversos setores da sociedade civil e poder público, o Instituto também incentiva boas práticas conjuntas entre os setores privado, público e terceiro setor.