Se, quatro ou cinco anos atrás, perguntassem a algum torcedor comum ao redor do mundo sobre quem era o melhor jogador de futebol do planeta, é provável que Lionel Messi e Cristiano Ronaldo liderassem a preferência popular, mas dividindo votos com um jogador brasileiro, que, na visão de seus fãs, seria melhor do que o português e o argentino, juntos.
Estamos falando de Neymar, que nunca conquistou a Bola de Ouro, mas tem sido o principal craque brasileiro neste século, pelo menos até o momento e se levarmos em conta o tempo que ele passou sem que ninguém lhe fizesse sombra, considerando-se o universo dos atletas nascidos e formados no país.
Mas esse cenário aparenta estar em vias de mudar, embora o jogador de 32 anos ainda ostente uma legião imensa de fãs, que se materializa, por exemplo, em seus 222 milhões de seguidores no Instagram (entre os esportistas, ele está apenas atrás de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, os dois indivíduos mais populares na rede da Meta).
O “reinado” de Neymar no futebol brasileiro começou na década passada, quando ele liderou o Santos na conquista Copa Libertadores de 2011. O país passava por uma grande mudança geracional, após a eliminação da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2010, nas quartas de final. Naquele ano, o treinador Dunga deu-se ao luxo de deixar o jovem atacante santista de fora (assim como seu principal companheiro de clube paulista, o meia Paulo Henrique Ganso) do elenco que acabaria sendo eliminado pela Holanda.
Na época, ainda havia quem afirmasse que Ganso seria mais craque que Neymar. A partir de 2012, porém, enquanto o meia sofreu uma grave contusão e nunca mais rendeu em níveis similares aos do início da carreira (apesar de acumular alguns momentos de glória, como na conquista da Libertadores com o Fluminense, em 2023), o atacante passou a ser reconhecido como um dos principais nomes do Barcelona do técnico Guardiola, que tinha estrelas como Messi e Luis Suárez, formando com eles o lendário Trio MSN.
Dessa forma, Ganso foi o último atleta a fazer algum tipo de sombra a Neymar, ao menos quando o assunto era bola no pé. Isto até a última Copa do Mundo, disputada em 2022 no Catar. Naquela ocasião, o atacante Vinícius Júnior, que foi revelado pelo Flamengo e negociado com o Real Madrid em 2017, quando tinha apenas 16 anos, já figurava como o grande xodó das marcas, conforme noticiou a Máquina do Esporte, na época.
O Brasil não fez uma campanha memorável naquele Mundial, que acabou tendo Lionel Messi e Mbappé como as principais estrelas. Desde então, porém, a carreira de Vini Jr. disparou e ele passou a apresentar condições reais de desbancar Neymar do posto de principal craque do país.
Entra as marcas, esse movimento está mais que consolidado. Maior nome da seleção brasileira na disputa da Copa América 2024, que fará nesta segunda-feira (24) sua estreia na competição realizada nos Estados Unidos, diante da Costa Rica, Vinícius Júnior consolidou-se como o principal atleta do futebol brasileiro em termos de publicidade e marketing.
Considerado um dos favoritos a ganhar a Bola de Ouro deste ano, depois de liderar o Real Madrid na conquista de sua 15ª Champions League, diante do Borussia Dortmund, Vini Jr. terá a chance de mostrar, nos gramados norte-americanos, que também é o maior jogador com a bola nos pés.
Jogador mais valorizado
Vinícius Júnior figura, hoje, no topo da lista dos jogadores mais caros do futebol mundial. Ele divide essa posição com astros como o francês Mbappé, que será seu parceiro no Real Madrid; o norueguês Haaland, do Manchester City; e o inglês Jude Bellingham, também seu colega de clube.
Cada um desses jogadores está avaliado em cerca de € 180 milhões (mais de R$ 1 bilhão, pela cotação mais atual), segundo a plataforma Transfermarkt.
Um levantamento feito pela Flashscore mostra Vini Jr. como o atleta mais valioso da Copa América, com um valor de mercado superior a R$ 920 milhões, que equivale a mais de 13% do valor total do elenco da seleção brasileira.
Para termos de comparação, Neymar, que ainda detém o status de maior jogador brasileiro, está avaliado em apenas € 30 milhões (R$ 174 milhões), o que representa pouco mais de 16% da cotação de Vini Jr.
Convém lembrar, como mostrou matéria publicada pela Máquina do Esporte, que diversos fatores influenciam na avaliação de mercado de um jogador, sendo que a idade é o mais determinante. Prestes a completar 24 anos, Vinícius Júnior começa a entrar no período da carreira em que a valorização tende a alcançar seu ápice.
Já Neymar, que tem 32 anos, está em numa fase de perda de valor. Mas ele já viveu momentos de glórias. Em 2018, ao ser negociado pelo Barcelona rumo ao PSG, da França, Neymar protagonizou aquela que foi a maior transferência da história do futebol mundial, que movimentou um total de € 222 milhões, quase R$ 1,3 bilhão, pela cotação mais recente.
Em agosto do ano passado, quando o brasileiro deixou o PSG para jogar no Al-Hilal, da Arábia Saudita, o clube de Paris ainda recebeu € 90 milhões (cerca de R$ 520 milhões) pela venda do jogador.
Um detalhe curioso é que, ao longo de sua carreira, Neymar já marcou 79 gols pela seleção brasileira, em 128 jogos disputados, sendo considerado o maior artilheiro (em termos absolutos, não de aproveitamento) do time canarinho masculino. Já Vini Jr. tem apenas três gols marcados com a camisa verde e amarela, em 28 partidas.
Neymar está de fora da Copa América 2024 por conta de uma lesão sofrida no início do ano, na Arábia Saudita, e que o deixou quatro meses afastado dos gramados. Seu retorno a campo, no Al-Hilal, ocorreu apenas no início deste mês.
Parcerias comerciais
Atualmente, o atacante brasileiro Vinícius Júnior, do Real Madrid e da seleção, destaca em suas redes sociais parcerias com importantes marcas e organizações, dentre as quais: Gatorade, Nike, Omo, Clear, Rexona, Playstation, Pepsi, Unesco (é embaixador da boa vontade da entidade), EA Sports, Betnacional e Vivo.
Sua carreira é gerenciada pela Roc Nation Sports, do músico norte-americano Jay-Z, que fez questão de abraçar pessoalmente o atleta, após o triunfo na final da Champions League 2023/2024.
Vini Jr. é embaixador de várias dessas marcas, caso da Clear, que, assim como Omo e Rexona, faz parte do portfólio da britânica Unilever.
Para se ter uma ideia do poder que a imagem de Vinícius Júnior possui atualmente no mercado publicitário, ela foi rapidamente acionada pela Rexona, depois que a campanha desenvolvida pela marca para a Copa América, com uma primeira fase estrelada por Ronaldinho Gaúcho, surtiu um efeito contrário ao desejado junto ao público.
A marca de desodorantes então passou a destacar Vini Jr. nas peças, que buscam resgatar a identidade do torcedor brasileiro com a seleção.
Neymar já teve o status de queridinho das marcas. Há cerca de cinco anos, quando trocou o Barcelona pelo PSG, o atacante era o atleta com o maior número de parcerias comerciais no mundo, com nada menos do que 30 contratos publicitários, inclusive com a Nike, que seria trocada pela Puma.
Atualmente, além de manter o vínculo com a fornecedora alemã de materiais esportivos, Neymar possui parcerias com: Red Bull, Poker Stars, Konami, Replay, Epic Games, Above, Mondelez, Plarium, Mister Potato Malaysia, Blaze, Aspetar, Skims, Campline Horses, Wepink e Tropicool.
Nota-se que, apesar de serem em uma quantidade até grande, as parceiras atuais de Neymar envolvem, com algumas exceções (como Red Bull, Puma e Mondelez), empresas que são pouco conhecidas do grande público e que atuam em nichos muito específicos, diferentemente das marcas que hoje caminham ao lado de Vini Jr. e buscam dialogar com segmentos mais abrangentes da população.
Parças
A diferença de idade entre Neymar e Vinícius Júnior é relativamente pequena, de apenas oito anos. Mas, na prática, os dois demonstram atitudes muito distintas em relação à vida pública e diante das questões sociais que afligem o país.
Vini Jr. adota uma postura mais comedida quanto à sua vida pessoal, em especial no que diz respeito aos relacionamentos amorosos. Neymar, por seu turno, que é um grande fã do Big Brother Brasil (BBB), costuma ter sua intimidade convertida em um verdadeiro reality show. Os episódios mais recentes dessa eterna novela envolvem os supostos casos extraconjugais do craque, que teriam ocorrido enquanto sua namorada Bruna Biancardi estava grávida (os dois já estão juntos, novamente).
Enquanto Vini Jr. está sempre associado ao apoio a projetos que buscam a transformação social, Neymar é manchete frequente nos sites e páginas sobre celebridades. O cruzeiro promovido pelo atacante do Al Hilal, no fim do ano passado, notabilizou-se por reunir quase tantos famosos quanto a plateia do especial de fim de ano do cantor Roberto Carlos, na TV Globo.
Tal como o desejo expresso pelo “Rei” na sua célebre composição, feita com Erasmo Carlos, Neymar faz também questão de ter 1 milhão de amigos – ou melhor, de parças. E esse conceito de parceria leva o craque a fazer escolhas no mínimo duvidosas em sua vida pública.
No início deste ano, a família do atacante destacou o advogado Gustavo Xisto, que trabalha há vários anos com Neymar pai, para auxiliar na defesa do lateral-direito Daniel Alves, condenado por estupro cometido contra uma jovem de 23 anos, na Espanha.
Além disso, Neymar ajudou Daniel Alves a pagar uma indenização por danos morais à vítima, com um empréstimo no valor de € 150 mil (em torno de R$ 870 mil, pela cotação atual), medida que serviu de atenuante para o lateral, no processo. O gesto foi entendido pela Justiça da Espanha como um sinal da boa vontade do jogador, de reparar os danos cometidos à jovem. Com isso, ele teve sua pena por estupro atenuada. Ela poderia chegar a 12 anos (tempo solicitado pela defesa da vítima), mas acabou fixada em quatro anos e seis meses.
Neste ano, o jornal O Globo e o portal UOL revelaram que Fábio Galan, um dos citados no caso de estupro que levou à prisão do ex-jogador Robinho, ocorrido em 2013, trabalha desde 2015 no Instituto Neymar Jr., mantido pelo atacante do Al-Hilal.
O colaborador da entidade não chegou a ser julgado nesse caso, mas aparece em interceptações telefônicas feitas pelas autoridades italianas, conversando com Robinho a respeito da violência sexual praticada contra a jovem albanesa.
Robinho atualmente cumpre pena na penitenciária de Tremembé (SP), depois que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que ele poderia ser preso no Brasil em decorrência da condenação sofrida em território italiano.
Questão social
Os dois atletas contam com institutos para chamarem seus. O de Neymar é mais antigo e começou a ser idealizado em 2010, passando a funcionar de fato em 2014.
O Instituto Neymar Jr. funciona em uma área de 8,4 mil m², localizada no Jardim Glória, em Praia Grande (SP). De acordo com informações da própria instituição, ela tem capacidade de atender até 3 mil crianças e adolescentes entre 7 e 17 anos, além de suas famílias, impactando mais de 10 mil pessoas.
“Neymar Jr. passou boa parte de sua infância no bairro Jardim Glória. O atleta e sua família são profundos conhecedores da realidade daqueles que vivem em situação de vulnerabilidade social na região e, por isso, quiseram retribuir para a sociedade tudo o que viveram e aprenderam em Praia Grande”, afirma o texto de apresentação da entidade.
Atualmente, o Instituto Neymar Jr. possui parcerias com Above, Puma, NR Sports e Al-Hilal, além de possuir o apoio de: Prefeitura de Praia Grande, Faber-Castell, Soccer Grass, ISM BR, NN Consultoria, JR & Garcia Construtora, Cellula Mater, Super Cérebro, Visão Laser, Angio Corpore, Bioleve, Romacer, Costa, Beetools, Dasa, Zoom e Instituto Mix.
O Instituto Vini Jr. é mais recente. Ele foi fundado em 2021 e teve como ponto de partida também o trabalho assistencial que a família do atleta desenvolvia em São Gonçalo (RJ), cidade onde ele nasceu e passou boa parte da infância e da adolescência.
Segundo a própria entidade divulga em sua página oficial, “o objetivo sempre foi construir um trabalho sólido, consistente, de longo prazo, algo que seja realmente transformador”.
“Como cidadãos conscientes da necessidade da união de esforços para ampliar e melhorar o acesso da educação de qualidade para crianças brasileiras em situação de vulnerabilidade social, Vini Jr. e sua família resolveram montar um time de especialistas e criar uma organização da sociedade civil capaz de contribuir com o enfrentamento desse enorme desafio”, afirma o texto de apresentação da instituição.
Esse trabalho inclui a capacitação de professores para práticas pedagógicas antirracistas e antimachistas, de modo a contribuir com um ambiente escolar empoderado e consciente. O Instituto Vini Jr. possui investimentos das Leis de Incentivo ao Esporte e Rouanet, de Incentivo à Cultura. A Prio é patrona da entidade, que tem patrocínios de Bayer e Fundação Casas Bahia, além de parcerias com Unesco, Brazil Foundation, Instituto Alok, Conectando Saberes, Nova Escola, Todos Pela Educação e apoios de Cité Arquitetura, Balera e Coral.
O Instituto Vini Jr. é parceiro, atualmente, dos seguintes municípios: Rio de Janeiro, São Gonçalo, Mesquita, Novo Hamburgo, Cabrobó e Búzios.
O aspecto que chama a atenção nesse trabalho filantrópico desenvolvido pelos dois atletas é que Vini Jr. consegue atrelar muito mais a sua imagem às ações de seu instituto e também à luta antirracista (ele próprio é alvo constante de ataques discriminatórios), atitudes que renderam a ele, em 2023, o Prêmio Sócrates, que leva o nome do falecido craque brasileiro e é concedido pela France Football para identificar e homenagear ações de solidariedade promovidas por personalidades do futebol.
Recentemente, por exemplo, o atleta do Real Madrid repercutiu na mídia ao lado de uma celebridade, o DJ Alok. Porém, essa parceria tem um objetivo social e consiste na implantação de um centro de tecnologias educacionais numa escola pública que atende a alunos de uma comunidade quilombola, no Rio de Janeiro.
Neymar, por seu turno, segue fortemente associado à rotina de celebridade, com seus affairs, ostentações e polêmicas. No último fim de semana, por exemplo, perdeu € 160 mil (R$ 928.590) para Jimmy Butler, do Miami Heat, em um torneio de pôquer para famosos.
Mês passado, seu nome ficou em grande evidência por conta do bate-boca público travado com a atriz Luana Piovani e o humorista Diogo Defante. A discussão começou depois que Neymar se irritou com críticas feitas pelo youtuber à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de autoria do senador Flávio Bolsonaro, que prevê a entrega das faixas de terra localizadas à beira do mar e dos rios e lagos (terrenos hoje pertencentes à Marinha) para prefeituras, governos estaduais e agentes privados.
A medida foi entendida como uma privatização das praias, que hoje têm acesso gratuito garantido ao público, gerando forte reação, especialmente nas redes.
O posicionamento de Neymar nesse debate foi associado à parceria firmada entre ele e seu pai com a DUE Incorporadora, que prevê a instalação de 28 empreendimentos imobiliários de alto padrão ao longo de um trecho de cerca de 100 quilômetros, nos litorais de Pernambuco e Alagoas, criando o chamado “Caribe Brasileiro”.
Na medida em que a polêmica ganhou corpo e outros famosos passaram a criticar o atleta, seu pai prontificou-se a emitir nota alegando que a PEC das praias em nada afetaria os imóveis da parceria com o DUE. O texto também afirma que o projeto estaria de acordo com as questões ambientais e de licenciamento.
Neymar não perdeu a chance de comentar no post do pai, com os seguintes dizeres em letras maiúsculas: “Manda isso pra [sic] mal amada da Luana Piovani.”
Enquanto o assunto vai saindo da pauta nas redes, Neymar segue firme em seus empreendimentos imobiliários à beira-mar. Na semana passada, ele esteve em Itapema (SC), visitando as obras do Edify One, que tem a NR Sports, da família do atleta, como sócia.
O edifício terá 60 apartamentos, com metragens que vão de 264 m² a quase 1.000 m² e preços iniciais que variam de R$ 9,5 milhões a R$ 40 milhões. A NR Sports já era dona do terreno e reuniu uma série de empresas para viabilizar o investimento.
“Estou aqui em Itapema, vim acompanhar o projeto da Edify One. Espero que vocês possam conhecer e gostar também, óbvio. Minha família e eu participamos disso aqui juntos”, disse Neymar, no vídeo em que apresenta o projeto.